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A proposta dos fóruns em cursos on line e a leitura de seus enunciados

Michele Lidiane da Silva

1 – Considerações iniciais

A discussão que será iniciada neste artigo é, na verdade, uma sequência de um trabalho que vem sendo construído e lapidado desde a produção do texto monográfico, que foi concluído, neste ano, no curso de Especialização em Lingüística e Língua Portuguesa da Universidade Júlio de Mesquita Filho – UNESP/Araraquara, e que está tendo sua continuidade na pesquisa de Mestrado intitulada, inicialmente, “O trabalho colaborativo em fóruns de cursos on line: a construção de um gênero”.

Como o próprio título já diz, o foco desta pesquisa é o gênero digital Fórum, o mapeamento da sua composição ao verificar seu formato, seu conteúdo, olhando para os enunciados dos cursistas em dois tipos de Fóruns: Fóruns de atividades, cujo principal objetivo era discutir determinado conteúdo e Fóruns de Bate Papo, que visavam à socialização dos participantes de um curso on line, voltado para professores do ensino fundamental e médio.

Atualmente, há uma tendência muito grande em se falar de diálogo na Educação, principalmente na relação professor-aluno, em sala de aula. Nas salas convencionais, isso sempre foi uma tarefa muito difícil, haja vista o repertório brasileiro quando o assunto é “educar”, a centralização do ensino na figura do professor, tendo o aluno como alguém inferior a ele, que deve ser submisso e aceitar tudo o que lhe é transmitido como verdades absolutas, sem nenhum tipo de questionamento.

A tentativa de mudança, da descentralização do ensino, veio com a implantação dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e com a inserção de novos métodos para a aplicação de conteúdos, principalmente uma preocupação marcante em utilizar tecnologia nas aulas. O olhar estaria voltado, agora, para o aluno enquanto cidadão crítico, que tem seus anseios e carrega uma carga expressiva de conhecimento, que não pode ser abandonada na medida em que o indivíduo ingressa no ambiente escolar.

A recuperação desta memória tem sido muito importante para compreendermos como o novo e o velho estão caminhando na Educação. A dificuldade dos professores com mais tempo de profissão em aceitar novas técnicas e instrumentos para as suas aulas e, ao mesmo tempo, a luta daqueles que estão começando a trabalhar com educação para implantar tudo aquilo que tem sido difundido em cursos de graduação, dando conta também de todo conteúdo instaurado, anteriormente, e que não pode ser deixado de lado.

Para não perdermos de vista a questão dos fóruns como gêneros do discurso, passaremos a uma breve apresentação a respeito do que tem sido estudado e de alguns pontos da teoria bakhtiniana sobre os gêneros do discurso, que será a base de todo o trabalho.

2 - Os novos gêneros do discurso e sua relação com o ensino

Já que estamos falando da questão do diálogo na Educação e sobre como ele tem se instaurado nas salas de aula com o passar do tempo, voltemos nossos olhares para outra situação, que tem como principal elemento o diálogo em ambiente virtual: a sala de aula on line, cujos alunos são professores atuantes do ensino fundamental e médio.

Entendendo que a função do professor, na atualidade, é a de mediador do conhecimento, responsável por mostrar o funcionamento das ferramentas de pesquisa e de aprendizagem para os alunos, para que esses construam suas hipóteses e cresçam com suas descobertas, a pergunta que surge é como os professores estão lhe dando com a tecnologia no ensino-aprendizagem e qual é o comportamento deles quando os papéis são invertidos, ou seja, são o alvo da situação de aprendizagem.

Desse modo, desde o início informamos que não apresentaremos, aqui, o corpus do trabalho em andamento, mas sim algumas ideias que tem sido exploradas durante a pesquisa. Além disso, queremos dizer também que a opção de falar sobre o comportamento dos professores diante dessa nova forma de aprendizagem e do desempenho dos mesmos no curso, não se trata de nenhum tipo de crítica à formação desses profissionais. Trata-se de uma tentativa de acompanhar a inserção dessas novas formas de aprendizagens, que serão, sem sombra de dúvidas, inseridas por eles, nas salas de aula.

2.1.- O formato e o funcionamento dos fóruns.

Os fóruns, em cursos on line, estão cada vez mais, ocupando um papel bastante expressivo no desenvolvimento da aprendizagem. Não basta o aluno realizar atividades e entregar via email para os mediadores dos cursos, pois este seria sempre o processo final de todo o trabalho. A interação, no processo de construção de conhecimento, passa a ser essencial neste novo formato de educação e, para que isso seja possível no ensino on line, é necessário que haja meios, instrumentos capazes de realizarem esta tarefa.

Para Schneuwly (2004), em uma releitura de Bakhtin, os meios são os próprios gêneros do discurso. São o elo entre o sujeito (o locutor) e a situação de comunicação ou o próprio interlocutor. Dessa forma, podemos dizer que o fórum é o gênero – instrumento da comunicação entre cursistas e mediadores de cursos on line.

Ao entrar em um Fórum há um tópico ou tema a ser discutido e os participantes desse fórum devem escolher a opção resposta para postarem suas mensagens a respeito dos tópicos de discussão. Sempre que há um novo assunto, abre-se um novo tópico e assim por diante. No entanto, determinados fóruns são utilizados para fins didáticos e as postagens (respostas), que deverão ser feitas neles, ficam condicionadas às propostas (enunciados centrais do fórum) que os mediadores têm para os participantes.

O local destinado a escrita no fórum é intitulado mensagem, remetendo-se ao gênero mensagem, que já é conhecido nas esferas comunicativas, fora do ambiente on line, mas que agora se encontra em outro formato, englobado por outro gênero do discurso, considerado secundário por possuir um formato convencional e por ter como característica principal uma compreensão responsiva de ação retardada. De acordo com Bakhtin, essa é uma característica de grande parte dos gêneros secundários, pois eles necessitam de um tempo maior para a compreensão do enunciado que está sendo veiculado e para a formulação de sua resposta.

Ao clicar no tema proposto na página inicial de um fórum, abre-se uma janela para que o participante digite sua mensagem, respondendo ao enunciado inicial (título do fórum). Nesta janela, o participante continua visualizando o título ou tema que está sendo debatido. Aparecem, também, seu nome, seu email e um local para anexar arquivos de outros tipos. Se ele quiser responder a mensagem de outra pessoa, ele deverá clicar no título dessa mensagem e após lê-la, haverá um link com a palavra resposta, onde o participante deve clicar e responder diretamente aos comentários desse participante. Dessa forma, a sua resposta ficará junto à caixa de mensagem do colega ao qual ele respondeu e será visualizada como resposta, e não como um novo tópico.

Assim, uma característica muito importante do fórum é a forma de organização das mensagens na caixa de postagens. Todas as mensagens vão sendo incluídas em ordem decrescente de recebimento. A primeira mensagem visualizada é, na verdade, a última que foi postada. No entanto, como já foi falado, se o cursista responder a mensagem de algum companheiro de curso, e não ao tópico central do fórum, sua resposta entrará na caixa de mensagens ao lado da que ele respondeu, e não no topo da lista. Temos, portanto, os três itens que compõem o formato do fórum: o título, a mensagem e a resposta.

Há, também, sempre um link destinado a postagem de arquivos, que devem estar relacionados de alguma forma com a mensagem e com a discussão do fórum, que fica junto a caixa de mensagens e, clicando nele, podem ser anexados qualquer tipo de texto. Desse modo, o fórum também pode ser utilizado como um suporte de outros tipos textuais, funcionando como um suporte para outros tipos de textos.

2.2. – A questão dos enunciados e a atitude responsiva esperada nos fóruns.

De acordo com o item exposto acima, sobre o funcionamento e o formato dos fóruns, temos uma estrutura (forma composicional) bem delineada deste gênero. Sabemos que o conteúdo temático dos fóruns analisados podem ser tanto as atividades propostas pelo curso, quando o fórum for didático, como também uma conversa informal nos fóruns de bate papo, que visa à socialização dos participantes. Resta-nos saber sobre o estilo deste gênero, que já de início podemos dizer que é através dos enunciados dos cursistas que conseguiremos depreendê-lo.

No entanto, alguns conhecimentos prévios podem-nos levar a algumas conclusões imediatas, como por exemplo, se o fórum for didático, podemos esperar uma conversa mais formal na realização de atividades por vários motivos, mas, principalmente, porque envolve uma situação formal de aprendizagem. Diferentemente, deve ocorrer nos fóruns de bate papo, onde a conversa deve ser mais variada e a individualidade dos participantes deve ser mais reforçada, já que estão livres para falar sobre qualquer assunto.

A partir do momento em que o fórum foi incorporado nos cursos on line com o intuito de promover a interação entre os participantes, através do trabalho colaborativo entre os grupos, e possibilitando a troca de conhecimento entre os cursistas, o diálogo se torna necessário e vai construindo um percurso em todas as etapas do curso. Pode-se dizer até, que se criou um estilo próprio da comunicação nos fóruns, o dialogal. Se não houver este entrosamento, que é justamente a atitude responsiva ativa, que segundo Bakhtin, inicia-se com uma ação retardada que cedo ou tarde se torna ativa, o fórum perde sua característica principal.

A teoria bakhtiniana mostra que o ouvinte/leitor deve agir como o locutor, deve ir trabalhando em sua mente a resposta para o enunciado ouvido/lido. Em contrapartida, o locutor também passa por um processo de imaginação do seu interlocutor, principalmente no caso dos gêneros secundários, que passam por um processo mais minucioso de construção até que recebam uma resposta ao que foi enunciado. Esta resposta pode ou não vir em forma de outro enunciado, mas será sempre ativa mesmo que seja sob um aspecto de aceitação, consentimento, afirmação do enunciado do outro.

3 – Conclusões iniciais

Percebemos, neste início de trabalho, que os cursistas atuaram de formas distintas nos dois tipos de fóruns. O processo de interação nos fóruns de bate papo através do diálogo é muito mais fácil de ocorrer do que nos fóruns didáticos, onde os cursistas ainda estão preocupados com a entrega de trabalhos e o cumprimento das atividades do curso, sem se darem conta de que a participação e a interação na discussão dos conteúdos é algo essencial para a aprendizagem neste modelo de curso.

Já nos fóruns de bate papo, a conversa ocorre naturalmente, porque apesar de não termos respostas imediatas, e de ainda nos depararmos com um gênero secundário do discurso, os conteúdos dos enunciados não necessitam de maiores formulações. A resposta para esses enunciados surge de forma contínua, fluida, na medida em que o leitor vai se apropriando daquele enunciado. Neste ponto, o fórum é muito confundido com o chat, que é outro tipo de gênero, considerado primário, porque a comunicação é sincrônica, diferente da comunicação no fórum, onde há o tempo da formulação do enunciado, do envio em forma de mensagem e da resposta do interlocutor.

Referências Bibliográficas

BAKHTIN. Mikhail. A Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e COLABORADORES. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2004.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Michele.
Respondendo a sua pergunta:
Às vezes, usa-se "tipo de texto" em situações nas quais o correto seria dizer "gênero de texto". Por exemplo, não seria correto dizer que um "artigo científico é um tipo de texto em que predomina uma linguagem formal"; o artigo cinetífico é um gênero textual.
Abçs
Helen Liberatori

Anônimo disse...

Oi Michele.
Às vezes, usa-se "tipo de texto" em situações nas quais o correto seria dizer "gênero de texto". Por exemplo, não seria correto dizer que um "artigo científico é um tipo de texto em que predomina uma linguagem formal"; o artigo científico é um gênero textual.
Abçs
Helen Liberatori