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O sujeito na perspectiva Bakhtiana

Rafael Miranda Porto Alegre


Ao tentar definir sujeito, Bakhtin revoluciona, conceitualmente, o seu significado, o considerando como parte de uma instância maior, caracterizada pelo fator social, que por sua vez, era na/pela linguagem e a interação social que o indivíduo se constituía e, concomitante, constituía significações para a sua realidade física e material. Então, pensa-se em sujeito, ligado a práticas socioculturais mais amplas e mais restritas, ou seja, os sujeitos, pela linguagem, mais especificadamente, fazendo uso de signos ideológicos, são vistos como atores/construtores sociais, o signo lingüístico é o lugar da interação e os interlocutores, sujeitos ativos que dialogicamente nele se constroem e são construídos.


Nesse sentido, alguns fundamentos que tomamos como base a partir do livro “Marxismo e Filosofia da Linguagem”, mostra-nos alguns apontamentos a respeito do que e como se constituíam os sujeitos para Bakhtin.


Primeiramente, considerando a conceituação em que Bakhtin aponta, podemos concluir que o signo lingüístico está estritamente relacionado na formação identitária e ideológica do indivíduo pós-moderno. Então, é incipiente se falar de signo lingüístico apenas como um construto social e não modificador da sociedade, segundo afirmações de base estruturalista saussuriana.


Enquanto criação do homem, ele se faz entender como reflexo da realidade. Mas não está explícita, no curso de Saussure, a modificação e a reconstrução da realidade feita pelo signo. Nessa carência, Bakhtin afirma: “O ser, refletido no signo, não apenas nele se reflete, mas também se refrata” (BAKHTIN, p. 46). Num capitulo anterior, ainda sobre essa capacidade do signo: “Toda refração ideológica do ser em processo de formação, seja qual for a natureza de seu material significante, é acompanhada de uma refração ideológica verbal, como fenômeno obrigatoriamente concomitante”. A construção do que entendemos por “ser” se dá na medida da enunciação e geração do significado do signo.


Assim, Bakhtin preconiza a palavra como signo ideológico por excelência, pois mesmo quando não exteriorizada, a palavra é usada no “diálogo interno” do sujeito, possibilitado unicamente por ela.


Uma das analogias feitas por Bakhtin é o marxismo. Infra-estrutura, nas idéias do alemão, é a economia; para Bakhtin, a realidade. Superestrutura, para Marx, é a ideologia (entre outras formações); para o filósofo da linguagem, a palavra, signo por excelência. Daí se reforça, mais uma vez, o signo enquanto responsável pela manutenção e modificação da ideologia. Assim, há um caráter mais dinâmico do uso da linguagem, que não é mais tida como instituição de comunidades lingüísticas, portanto social.


Nesse ponto a idéia da palavra, ou o signo tomado em relação à luta de classes, ou como afirma Bakhtin, “o signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes” (BAKHTIN, p. 46), arena esta que não é usada ao acaso, mas conscientemente, já que a consciência também está no signo.


Desde modo, o movimento fundamental que Bakhtin empreende em relação ao signo e sua constituição como fator de formação do sujeito e da realidade, é pautado nas seguintes considerações de que a língua se desenvolve e modifica tanto o tempo quanto à sociedade, bem como é modificada por esses dois fatores e marca a tradição dos momentos, sendo, se não protagonista deles, pelo menos fator fundamental.


“Toda crítica viva pode tornar-se elogio, toda verdade viva não pode deixar de parecer para alguns a maior das mentiras. Esta dialética interna do signo não se revela inteiramente a não ser nas épocas de crise social e de comoção revolucionária. Nas condições habituais da vida social, esta contradição oculta em todo signo ideológico não se mostra à descoberta porque, na ideologia dominante estabelecida, o signo ideológico é sempre um pouco reacionário e tenta, por assim dizer, estabilizar o estágio anterior da corrente dialética da evolução social e valorizar a verdade de ontem como sendo válida hoje em dia.” (BAKHTIN, p. 47).


Portanto, o signo pode, por vezes, servir aos interesses de seus usuários reacionários e estabelecer um retorno à situação. No entanto, Bakhtin, apoiado numa base pragmática, tenta desmistificar o psiquismo humano, valorando a questão da formação do indivíduo e da realidade social, com base no signo ideológico e sua mobilidade interacionista, e alguns pontos defende: 1) O organismo (homem, seu sistema sensível) e o mundo se encontram no signo; 2) O psiquismo interior não pode ser avaliado como os restantes processos sistemáticos pertencentes à atividade humana: ele é formado por signos; 3) Qualquer investigação acerca do psiquismo deve ser compreendida como interpretação sócio-ideológica; 4) “O signo é uma unidade material discreta, mas a significação não é uma coisa e não pode ser isolada do signo como se fosse uma realidade independente”. (p.51); 5) Se não exteriorizado, o produto do psiquismo interior é apenas uma massa obscura. Para se desenvolver, precisa de realização, de converter-se em ato; 6) Qualquer pensamento é igualmente individual, social e ideológico. 7) “A criatividade da língua não coincide com a criatividade artística nem com qualquer outra atividade ideológica específica. Mas, ao mesmo tempo, a criatividade da língua não pode ser compreendida independente dos conteúdos e valores ideológicos que a ela se ligam. A evolução da língua, como toda evolução histórica, pode ser percebida como uma necessidade cega de tipo mecanicista, mas também pode tornar-se ‘uma necessidade de funcionamento livre’, uma vez que alcançou a posição de uma necessidade consciente e desejada”.“As condições da comunicação verbal, suas formas e seus métodos de diferenciação são determinados pelas condições sociais e econômicas da época”.( BAKHTIN, p.154). (BAKHTIN, p. 127); 8)


A partir desses levantamentos, poderíamos, concluir, ou melhor, tentar apontar para formas de tratamento do sujeito em Bakhtin como um ser heterogêneo, que modifica seu discurso em função das intervenções dos outros discursos, ou seja, da presença do outro, que dialogicamente, possibilita uma delimitação e construção do espaço de atuação do sujeito no mundo, bem como constitui o sujeito, ideologicamente e proporciona-lhe um possível acabamento.


Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 11 ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

SAUSSURE, F. Curso de Lingüística Geral. 30 ed. São Paulo: Cultrix, 1998.

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