Rúbia Cristina Cruz Menegaço
A hierarquia das relações na escola pode afetar diretamente as relações pessoais quando nos debruçamos em procurar qualificar a relação com o outro na expressão da alteridade. Essa hierarquia pode legitimar mais algumas vozes do que outras.
Encontro-me, na busca desta discussão, como diretora educacional de uma escola pública2. Lugar em que, muitas vezes, as imagens se nos mostram distorcidas, apresentam-se numa dinâmica de tempos e lugares intensamente movimentadas, conforme as intenções de falantes e ouvintes.
Deste meu lugar, a escolha de quem e o porquê ouvir é uma atitude política. São as múltiplas as representações de linguagem, desde a voz, o gesto, a expressão, ... ao silêncio, à espera.
A escola está imersa numa relação polifônica, de ideologias combativas, onde cada discurso está profundamente carregado de um sentido social e não se restringe a um olhar individual e neutro do sujeito que fala/cala. A ação desse é, portanto, sempre marcada pela sua ideologia. Ele vive e age em seu próprio mundo ideológico e não apenas num mundo épico (Bakhtin, 1998: 137). A sua palavra está, portanto, sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial (2002:95) e é constituída pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações (2002:123).
Dentro das relações institucionais da escola, vivenciamos a explosão dessas vozes que circulam nas atividades livres, nos cochichinhos da sala de aula, nos cantos escondidos, nas discussões pedagógicas, nos atendimentos à comunidade.
Não temos vaga! Computadores DEIXA EU TOMAR ÁGUA? atividades profissionais para nossa sobrevivência A gripe A. tabela de basquete Responsabilidade As críticas vêm o aluno caiu... Até quarta feira os equipamentos chegam, esperamos o retorno da secretaria de educação. a mãe não respondeu nada... as tomadas de decisão coletivizadas. o laboratório visual fotografar e revelar meu filho não tem escola! a profissionalização como lidar com a tecnologia digital? composição dos horários a servente baixou os olhos CHAMEM Os voluntários O almoço da semana passada foi um sucesso construção do esgoto uma verba federal. continuidade. Parceria de empresas da região estagiários REPOSIÇÃO promove contatos institucionais A UNICAMP GANHAMOS, DONA, MAIS UM TROFÉU documentos e fotos Liga Campineira universidade. crianças formadas para ajudar a própria comunidade o prazer e o aprender para o futuro, instrumentos musicais blog de investimento, CHEGOU MAIS UNIFORME tem mais desejos e utopias do que dinheiro. avanço das camadas cotidiano...
Nas intermitências das explosões da palavra dita/silenciada volta e meia somos surpreendidos nos silêncios dos sujeitos. Silêncios de quem teme, de quem questiona, de quem cala para obedecer, de quem silencia para transgredir.
Podemos trazer para nossa discussão a importância das sensibilidades nas relações na busca de interpretações dessas vozes e desses silêncios. Se, para Bakhtin (2002) a palavra é uma arena de luta, é o lugar das contradições entre as minhas palavras e a do outro, é preciso compreender este momento como constitutivo dos sujeitos. Cada um de nós, nesta arena, traz consigo, além das ideologias, as milhares de vozes cotidianas que nos transpassam e também nos constituem, fazendo sujeitos carregados de muitos outros.
Se há confronto ao ouvir essas vozes e esses silêncios havemos de pensar nas escolhas que fazemos em ouvir, sentir, interpretar e compreender o outro e seu lugar social. Portanto, esta escuta, precisar ser aprendida, no desafio de se perceber o outro como parte de si.
Para Bakhtin (1997b)
... todas as palavras são alheias, com exceção de nossas próprias palavras todas as demais são palavras do outro. Vivo no universo das palavras do outro. E toda a minha vida consiste em conduzir-me nesse universo, em reagir às palavras do outro (as reações podem variar infinitamente), a começar pela minha assimilação delas (durante o andamento do processo do domínio original da fala), para determinar pela assimilação das riquezas da cultura humana (verbal ou outra). A palavra do outro impõe ao homem a tarefa de compreender esta palavra (Bakhtin 1997:383).
Ora, vivemos a utopia da construção de uma escola com princípios democráticos e de participação dos seus sujeitos, da construção da autonomia dos alunos e dos professores, porém, essa utopia só é possível a partir da escuta dessas vozes e silêncios de sujeitos autorizados ou não a participarem dessa arena de discursos e ações, sem que centralizemos os processos emancipatórios em uma ou outra figura de destaque ou liderança. Há necessidade de uma constituição de grupo, com laços de confiança, ética e integridade, que se desafiem em atos coletivos.
Para Bakhtin, a palavra do outro se transforma, dialogicamente, para tornar-se palavra–pessoal-alheia com ajuda de outras palavras do outro, e depois, palavra pessoal (BAKHTIN, 1992, p. 405). E, podemos dizer que tais vozes e silêncios nos povoam, gritam, imprimem sentidos múltiplos em nós, que precisam ser re-visitados, re-significados.
A escola que deseja trabalhar com a ruptura dos modelos pré-estabelecidos, precisa lançar-se a este desafio. A escola democrática pode ser re-construída a partir de sujeitos que, tolerantemente, se exponham ao risco de oferecer-se ao outro. A alteridade, então, poderá ser compreendida como uma grande lição para a contemporaneidade e praticada em meio a vozes e silêncios.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
________. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Anna Blume Editora - Hucitec, 10ª Edição, 2002.
________. Questões de literatura e de estética. São Paulo: Unesp/Hucitec, 1998.
MORAES, Vinícius de. A Arca de Noé: Poemas Infantis. São Paulo: Companhia das Letrinhas. 1991.
“os maiores vêm à frente trazendo
a cabeça erguida
e os fracos, humildemente vêm atrás,
como na vida”.
Poema de Vinícius de Moraes, A Arca de Noé.
a cabeça erguida
e os fracos, humildemente vêm atrás,
como na vida”.
Poema de Vinícius de Moraes, A Arca de Noé.
A hierarquia das relações na escola pode afetar diretamente as relações pessoais quando nos debruçamos em procurar qualificar a relação com o outro na expressão da alteridade. Essa hierarquia pode legitimar mais algumas vozes do que outras.
Encontro-me, na busca desta discussão, como diretora educacional de uma escola pública2. Lugar em que, muitas vezes, as imagens se nos mostram distorcidas, apresentam-se numa dinâmica de tempos e lugares intensamente movimentadas, conforme as intenções de falantes e ouvintes.
Deste meu lugar, a escolha de quem e o porquê ouvir é uma atitude política. São as múltiplas as representações de linguagem, desde a voz, o gesto, a expressão, ... ao silêncio, à espera.
A escola está imersa numa relação polifônica, de ideologias combativas, onde cada discurso está profundamente carregado de um sentido social e não se restringe a um olhar individual e neutro do sujeito que fala/cala. A ação desse é, portanto, sempre marcada pela sua ideologia. Ele vive e age em seu próprio mundo ideológico e não apenas num mundo épico (Bakhtin, 1998: 137). A sua palavra está, portanto, sempre carregada de um conteúdo ou de um sentido ideológico ou vivencial (2002:95) e é constituída pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações (2002:123).
Dentro das relações institucionais da escola, vivenciamos a explosão dessas vozes que circulam nas atividades livres, nos cochichinhos da sala de aula, nos cantos escondidos, nas discussões pedagógicas, nos atendimentos à comunidade.
Não temos vaga! Computadores DEIXA EU TOMAR ÁGUA? atividades profissionais para nossa sobrevivência A gripe A. tabela de basquete Responsabilidade As críticas vêm o aluno caiu... Até quarta feira os equipamentos chegam, esperamos o retorno da secretaria de educação. a mãe não respondeu nada... as tomadas de decisão coletivizadas. o laboratório visual fotografar e revelar meu filho não tem escola! a profissionalização como lidar com a tecnologia digital? composição dos horários a servente baixou os olhos CHAMEM Os voluntários O almoço da semana passada foi um sucesso construção do esgoto uma verba federal. continuidade. Parceria de empresas da região estagiários REPOSIÇÃO promove contatos institucionais A UNICAMP GANHAMOS, DONA, MAIS UM TROFÉU documentos e fotos Liga Campineira universidade. crianças formadas para ajudar a própria comunidade o prazer e o aprender para o futuro, instrumentos musicais blog de investimento, CHEGOU MAIS UNIFORME tem mais desejos e utopias do que dinheiro. avanço das camadas cotidiano...
Nas intermitências das explosões da palavra dita/silenciada volta e meia somos surpreendidos nos silêncios dos sujeitos. Silêncios de quem teme, de quem questiona, de quem cala para obedecer, de quem silencia para transgredir.
Podemos trazer para nossa discussão a importância das sensibilidades nas relações na busca de interpretações dessas vozes e desses silêncios. Se, para Bakhtin (2002) a palavra é uma arena de luta, é o lugar das contradições entre as minhas palavras e a do outro, é preciso compreender este momento como constitutivo dos sujeitos. Cada um de nós, nesta arena, traz consigo, além das ideologias, as milhares de vozes cotidianas que nos transpassam e também nos constituem, fazendo sujeitos carregados de muitos outros.
Se há confronto ao ouvir essas vozes e esses silêncios havemos de pensar nas escolhas que fazemos em ouvir, sentir, interpretar e compreender o outro e seu lugar social. Portanto, esta escuta, precisar ser aprendida, no desafio de se perceber o outro como parte de si.
Para Bakhtin (1997b)
... todas as palavras são alheias, com exceção de nossas próprias palavras todas as demais são palavras do outro. Vivo no universo das palavras do outro. E toda a minha vida consiste em conduzir-me nesse universo, em reagir às palavras do outro (as reações podem variar infinitamente), a começar pela minha assimilação delas (durante o andamento do processo do domínio original da fala), para determinar pela assimilação das riquezas da cultura humana (verbal ou outra). A palavra do outro impõe ao homem a tarefa de compreender esta palavra (Bakhtin 1997:383).
Ora, vivemos a utopia da construção de uma escola com princípios democráticos e de participação dos seus sujeitos, da construção da autonomia dos alunos e dos professores, porém, essa utopia só é possível a partir da escuta dessas vozes e silêncios de sujeitos autorizados ou não a participarem dessa arena de discursos e ações, sem que centralizemos os processos emancipatórios em uma ou outra figura de destaque ou liderança. Há necessidade de uma constituição de grupo, com laços de confiança, ética e integridade, que se desafiem em atos coletivos.
Para Bakhtin, a palavra do outro se transforma, dialogicamente, para tornar-se palavra–pessoal-alheia com ajuda de outras palavras do outro, e depois, palavra pessoal (BAKHTIN, 1992, p. 405). E, podemos dizer que tais vozes e silêncios nos povoam, gritam, imprimem sentidos múltiplos em nós, que precisam ser re-visitados, re-significados.
A escola que deseja trabalhar com a ruptura dos modelos pré-estabelecidos, precisa lançar-se a este desafio. A escola democrática pode ser re-construída a partir de sujeitos que, tolerantemente, se exponham ao risco de oferecer-se ao outro. A alteridade, então, poderá ser compreendida como uma grande lição para a contemporaneidade e praticada em meio a vozes e silêncios.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
________. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Anna Blume Editora - Hucitec, 10ª Edição, 2002.
________. Questões de literatura e de estética. São Paulo: Unesp/Hucitec, 1998.
MORAES, Vinícius de. A Arca de Noé: Poemas Infantis. São Paulo: Companhia das Letrinhas. 1991.
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