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Rodas de Conversa - Sobre o trabalho de Bakhtin - Bakhtin e a Mídia

Rosana Utida


À frente de sua época, Bakhtin contraria quaisquer procedimentos de análise linguística (fonético, morfológico ou sintático). Coloca em evidência a inadequação dos mesmos frente à enunciação completa. Então, compreende a natureza social e ideológica do discurso.

Século XXI, em análise dos discursos podemos encontrar grandes autores: Mainguenau, Morin, Charaudeau ... Porém, todos comungam com as ideias de Bakhtin. Não há na atualidade qualquer obra de qualidade em análise do discurso que não tenha como referência esse grande e admirável mestre da Linguística.

A preocupação de Bakhtin, seu trabalho árduo de pesquisa sobre a filosofia da linguagem marxista vai além desse objetivo central: busca a natureza social da enunciação, grande vedete de sua obra “Marxismo e a filosofia da linguagem”

Também vem contribuir para a construção de uma Epistemologia da Comunicação, tão desejada e esperada, mas que até o momento, não formatada. Grandes teóricos afastam-se dela, pois não percebem a grande intertextualidade existente entre a Filosofia, Psicologia e Comunicação, já tão desfraldada por Bakhtin. A interdisciplinaridade tão vislumbrada por Bakhtin não é compreendida ainda por muitos autores, que teimam em não aceitá-la. A verdade de ordem epistêmica diante da grande e complexa Comunicação está sendo construída, pois as transformações comunicacionais do nosso século são assustadoras e velozes demais.

Mas, ainda neste século de grandes transformações o estudo midiático necessita mais do que nunca que as ideias bakhtinianas sejam estudadas de forma relevante. Não há como afastar-se delas, seja para a construção de uma Epistemologia da Comunicação ou ainda para servir como base de qualquer análise de discurso. Toda e qualquer situação comunicacional, desde as mais recentes ou as já tão explicitadas (jornais, Internet, blogs, jornalismo literário...) estão profundamente impregnadas das tenras ideias bakhtinianas, devem portanto serem estudadas, amplamente discutidas, para que a novas teorias da comunicação não se percam em um estruturalismo aparentemente democrático.

O conjunto, o aparato comunicacional funciona diariamente, cada um em seu setor. A informação, a notícia factual, os reallty shows, são engrenagens comunicacionais que precisam de confronto científico, há necessidade de estudo específico, relevante, mas que passe pelas teorias bakhtinianas, para que as máquinas de informações sejam duramente criticadas. Pois, percebemos que a construção de uma sociedade depende das significações que a mesma sociedade faz ao longo dos tempos. Mais uma vez a contribuição de Bakhtin: “A consciência adquiriu forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais”.

A intencionalidade discursiva merece atenção. Todas as representações apontam para um desejo social. Eis aqui o perigo. À luz de Bakhtin sabemos que a “lógica da consciência é a lógica da comunicação” e esta, não pode e nem deve ser negligenciada. Mais uma vez, o sistema de valores impostos pelas máquinas comunicacionais apontam para a construção da sociedade que formaremos. A linguagem, enquanto ato de discurso, aponta para a organização social.

Bakhtin levantou a bandeira da desconfiança. O inócuo na mídia não existe. “A realidade dos fenômenos ideológicos é a realidade objetiva dos signos sociais”, alerta Bakhtin. Assim, a mídia e seus consumidores de informação estão na verdade impregnados de uma subjetividade aparente , mas que na realidade tudo não passa de encenação.

O tempo, o espaço e o cenário comunicacional necessita das informações desse estudioso. Bakhtin não somente é relevante, é atual e indispensável. Estudá-lo e atualizá-lo é no mínimo intrigante. Contrariando o pensamento de muitos, toda a mídia precisa ser revelada, tirá-la da escuridão ofuscante dos detentores do poder. Bakhtin vem contribuir, está à disposição dos que desejam assim “re-significar”, revelar e não RE-VELAR!



Referências bibliográficas:

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem . Marina Yaguello. Editora Hucitec. SP
CHARAUDEAU, p. Discurso das Mídias, Editora Contexto
CEREJA, William. Significação e tema. In: BRAIT, B. (org.) Bakhtin: conceitos-chave. 4. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
BAKHTIN, M. /VOLOCHINOV, V. N. (1929). Marxismo e filosofia da linguagem. 12 ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

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