Os textos foram publicados por ordem de chegada.
Para ler os textos sobre temas específicos, clique no tema, no menu ao lado.
Para ler os textos de autores específicos, clique no nome do autor, no menu ao lado, mais abaixo.
Observamos ainda que a publicização dos textos nesse blog atendem especificamente ao objetivo de propiciar a leitura prévia dos participantes do Círculo 2009. Os textos serão devidamente reorganizados e formatados com todas as notas e publicados em Caderno Especial para o evento.

À procura do aluno-autor em textos escolares

Isaura Maria de Carvalho Monteiro
=
[...] o pensamento das ciências humanas nasce como pensamento sobre pensamento dos outros, sobre exposição de vontades, manifestações, expressões, signos atrás dos quais estão os deuses que se manifestam (a revelação) ou os homens (as leis dos soberanos do poder, os legados dos ancestrais, as sentenças e enigmas anônimos, etc.). O inventário, por assim dizer, cientificamente exato dos textos e a crítica dos textos são fenômenos mais tardios (trata-se de toda uma reviravolta no pensamento das ciências humanas, do nascimento da desconfiança) (BAKHTIN, 2003, p.307-308).
=
É justamente nessa desconfiança apontada por Bakhtin que se deposita toda uma perspectiva de sondagem em textos escolares via perplexidade, interrogação, suspensão de evidência. Tem-se a intenção de, em certa medida, ultrapassar os limites da linguística, acreditando que “cada texto (como enunciado) é algo individual, único e singular, e nisso reside todo seu sentido (sua intenção em prol da qual ele foi criado)” (BAKHTIN, 2003, p. 310).
=
Tenta-se pesquisar em escritos escolares o destaque mostrado por Bakhtin em muitos de seus textos no que se refere à dimensão sociointeracional da língua, direcionando uma ideia entre o individual e o social não mais marcada dicotomicamente, mas impregnada por uma ideia que abre o espaço para o individual revelado na estratificação das diversas línguas humanas – plurilinguismos ou heteroglossias, atravessado pelo diálogo das vozes sociais:
=
[...] a estratificação e o plurilinguismo ampliam-se e aprofundam-se na medida em que a língua está viva e desenvolvendo-se; ao lado das forças centrípetas caminha o trabalho contínuo das forças centrífugas da língua, ao lado da centralização verbo-ideológica e da união caminham ininterruptos os processos de descentralização e desunificação. (BAKHTIN, 1998, p. 82).
=
Por essa colocação, facilmente nos transportamos para o século XXI retratado por Boaventura de Sousa Santos (2006), que, em uma proposta política contra-hegemônica, sugere uma hermenêutica diatópica, um diálogo intercultural, uma verdadeira troca entre saberes. Boaventura (2006, p.448), ao basear-se "na ideia de que os 'topoi' de uma dada cultura, por mais forte que sejam, são tão incompletos quanto a própria cultura a que pertencem", amplia, como Bakhtin demonstra ao apontar as heteroglossias, toda uma incompletude através de "um diálogo que se desenrola" (através de um "diálogo inconcluso", no dizer de Bakhtin).
=
Ao discutir o gênero romanesco, Bakhtin (1998) extratifica a dinâmica da língua, apontando a participação ativa do enunciado, tanto no aspecto linguístico quanto no aspecto do estilo (mostrando uma igualdade participativa deste).
=
A visão de Bakhtin (2003, 1998) sobre gêneros, tanto em seu manuscrito "Os gêneros do discurso" como em "A estilística contemporânea e o romance" permite ampliar o conceito de estilo para incluí-lo tanto nos gêneros utilizados em nosso cotidiano quanto nos gêneros literários. Asim, é possível pensar em diversas situações enunciativas, nelas incluindo textos produzidos institucionalmente por alunos. Acredita-se que esse aluno-autor pode surgir na fabricação muitas vezes do corriqueiro, no dizer-comum, influenciado pela sua "responsabilidade" social.
=
Entende-se que o processo de escrita de texto passa invariavelmente por um sujeito – nomeado ou não, que se faz autor, reconhecido ou não – em um trabalho condutor de sentido. Essa prática discursiva acontece em diferentes momentos históricos, é realizada por diferentes sujeitos, que, por sua vez, possuem diferentes formações sociais (e fica evidente que essas ações mostram usos diferenciados da língua). Como diz Possenti (2002, p.114) “é impossível pensar nesta noção de autor sem considerar de alguma forma a noção de singularidade, que, por sua vez, não poderia escapar de uma aproximação – bem feita – com a questão de estilo”.
=
A procura da posição de autor, segundo Bakhtin (2003) consiste na busca do autor por sua própria palavra: autorar é assumir uma posição axiológica.
=
Referências Bibliográficas

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes [1979], 2003.

______.Questões de literatura e estética – a teoria do romance. 4.ed. São Paulo: Ed. UNESP [1975], 1998.

POSSENTI, S. Indícios de autoria. Perspectiva, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 105-124, jan./jun. 2002.

SANTOS, B. S. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2006.

Nenhum comentário: