Lilian Branquinho
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Este pequeno texto tem como objetivo mostrar polêmicas presentes na mídia sobre textos usados em atividades didáticas, que revelam uma política do dizer na esfera escolar, busco, portanto, por meio destas polêmicas, provocar discussões sobre o assunto em análise e refletir sobre o conceito de ideologia de Bakhtin.
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Diferentemente de Saussure que centrou seus estudos na descrição da língua e na sua análise como um sistema de códigos, excluindo a fala, sem, contudo, reconhecer o sujeito da enunciação, Bakhtin em seus estudos se preocupou em valorizar a fala, afirmando sua natureza social, ligada a história, ao sujeito e ao espaço, pois segundo ele a língua é evolutiva, mutável, e se transfere de geração para geração, adquirindo as características de cada sociedade falante desta língua, e assim carrega as características das esferas em que é falada, trazendo consigo a ideologia dominante deste meio.
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Sendo a enunciação de caráter social, ela não deve ser analisada fora de seu contexto social, ou seja, sem ser considerado os elementos extralingüísticos que a envolvem. Para Bakhtin (1995) o signo e a situação social estão unidos, e assim todo signo possui o caráter ideológico, e a palavra refrata todas as características das relações sociais, o filósofo russo ainda afirma que:
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“Se a língua é determinada pela ideologia, a consciência, portanto o pensamento, a “atividade mental”, que são condicionados pela linguagem, são modelados pela ideologia. Contudo todas estas relações são inter-relações recíprocas, orientadas é verdade, mas sem excluir uma contra-ação. O psiquismo e a ideologia estão em “interação dialética constante” ”. (Bakhtin, p. 16, 1995)
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Tomando o pensamento de Bakhtin sobre o conceito de ideologia, onde estabelece que toda palavra possui característica ideológica, e reflete o pensamento de cada esfera de atividade, busco por meio destas reflexões analisar os valores ideológicos que se materializam, e são refratados, em polêmicas sobre textos usados como materiais didáticos.
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Para fazer esta análise utilizo como corpus duas polêmicas envolvendo textos usados como suporte didático, com a finalidade de investigar o discurso sobre o que se pode dizer na escola.
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Nosso objeto de análise são polêmicas presentes na mídia, em especial a digital, em que se tematiza a adequação ou não de livros usados como suporte para atividades didáticas de leitura e estudo da língua. A primeira polêmica relacionada a livros destinados ao programa de alfabetização Ler e Escrever é um HQ: Dez na área, um na banheira e ninguém no gol (PEDROSO, 2002), que foi escrito por diferentes autores, e que aborda temas relacionados ao futebol, o segundo: Poesia do Dia - Poetas de Hoje para Leitores de Agora (SARMATZ, 2008) é um livro de poesias, também escrito por diversos autores, que tem como temática os problemas vividos na adolescência.
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Faremos menção neste primeiro momento a apenas dois livros desta polêmica ocorrida
Busca-se refletir, portanto, sobre as compreensões responsivas produzidas por esses materiais didáticos, as quais se materializam nas polêmicas analisadas, percebendo as diferenças e aproximações entre esses discursos, os valores ideológicos, e o sentido das palavras utilizadas que compõem estas polêmicas.
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Referências
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BAKHTIN/VOLOCHINOV. Marxismo e filosofia da linguagem. Tradução de Michel Lahud e Yara F. Vieira. 4ª ed. São Paulo: Hucitec, 1995.
PEDROSO, Orlando. Dez na área, um na banheira e ninguém no gol. 1º ed. São Paulo: Lettera, 2002.
SARMATZ, Leandro. Poesia do Dia - Poetas de Hoje para Leitores de Agora. São Paulo: Ática, 2008.
TEZZA, Cristovão. Aventuras Provisórias. Record, 2007.
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