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O pensamento bakhtiniano na atualidade

Ana Paula Fiore

Filósofo da linguagem e detentor de uma linguística considerada "trans-lingística" por ultrapassar a visão de língua como sistema, Bakhtin nunca entendeu a língua isoladamente, mas analisando linguisticamente e incluindo fatores extra-linguíticos como contexto de fala, a relação do falante com o ouvinte, momento histórico, etc.

O dialogismo para Mikhail Bakhtin influenciou e até antecipou as principais orientações teóricas sobre texto e discurso, considerando o dialogismo como o princípio constitutivo da linguagem e a condição de sentido de qualquer discurso.

Essa presença de uma voz, a partir de outra, não é uma teoria científica, mas uma filosofia, um conjunto de conceitos. Um objetivo qualquer do mundo exterior ou interior mostra-se sempre perpassado por ideais gerais, por pontos de vista, por apreciações alheias. Não há nenhum objeto que não apareça cercado, envolto, embebido em discursos. Por isso todo discurso que fale de qualquer objeto não está voltado para a realidade em si, mas para os discursos que o circundam. Por conseguinte, toda palavra dialoga com outras, sendo assim as relações dialógicas são entendidas como espaços de tensão entre vozes sociais.

No entanto, o filósofo russo não nega a existência da língua, nem condena seu estudo, ao contrário, considera-o necessário para compreender as unidades linguísticas, mostrando que a fonologia, a morfologia ou a sintaxe não explicam o real funcionamento da linguagem. Bakhtin queria construir uma ciência que fosse além da linguística, examinando o funcionamento real da linguagem em sua unicidade e não somente o sistema virtual que permite esse funcionamento.

Se o conceito bakhtiano fosse aplicado aos estudos didáticos escolares, a gramática seria estudada para ser aplicada ao cotidiano e não para reverter-se em notas ou vagas nos vestibulares ou concursos, ela carregaria o próprio prazer de aperfeiçoar e não aprender uma linguagem, sendo assim, a gramática e a literatura deveriam ser ensinadas e aprendidas por paixões a elas e porque não dizer, por respeito a nossa linguagem e a suas interpretações, uma vez que é através desses estudos que conseguimos ter noção do quão respeitável e poderosa é a nossa linguagem dialógica. Sendo assim o dialogismo bakhtiniano mostra-nos como lidar com a gramática e a literatura de forma “dialógica” e apaixonada, sendo seu uso caracterizado pela orientação da palavra viva para o meio movediço dos discursos alheios com os quais interage (Bakhtin, The Dialogic Imagination, University of Texas Press, 1981, 276), destacando a necessidade de encontrar um pressuposto comum que informe centralmente todo o seu edifício conceitual.

A linguagem para Bakhtin, portanto, perpassa os sujeitos e configura-se nas relações sociais, opondo-se a Saussure[1] que compreende a língua como algo abstrato, isolado do contexto. Verifica-se, também a dicotomia entre forma e conteúdo. Para Bakhtin, a palavra origina-se da relação social e está diretamente vinculada a todos os atos de compreensão e de interpretação. Se para Bakhtin (1986), a consciência individual adquire forma e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais. “Os signos são os alimentos da consciência individual, a matéria de seu desenvolvimento, ela reflete sua lógica e suas leis. A lógica da consciência é a lógica da comunicação ideológica da interação semiótica de um grupo social” (BAKHTIN, 2002, p. 35-36).

A prática pedagógica é, portanto, dialógica, pois resulta das relações sociais entre professores e alunos, professores e professores, alunos e alunos, e, dessa forma deve-se pensar nas metodologias adotadas para que haja um redirecionamento das abordagens didáticas e uma proximidade entre as vozes constituintes da prática docente.
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[1] Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo suíço cujas elaborações teóricas propiciaram o desenvolvimento da linguistica enquanto ciência e desencadearam o surgimento do estruturalismo. Além disso, o pensamento de Saussure estimulou muitos dos questionamentos que comparecem na lingüística do séculoXX.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
FIORIN: José Luiz de. Introdução ao pensamento de. Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinand_de_Saussure

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