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O ensino da língua espanhola no Brasil

Ester Myriam Rojas Osório


1.- Percurso histórico:


Até a década de 60 era comum o Ensino da Língua Espanhola como Língua Estrangeira na Educação Média, esta inserção atendia a reforma educacional de 1942 que determinava o estudo do Latim, do Francês, do Inglês e do Espanhol nas Escolas Públicas. Era utilizado o chamado “Método Clássico”, cuja base era o ensino da gramática através de exercícios de tradução e versão. O principal objetivo era a transmissão da “Língua Culta” por intermédio da literatura. A tradução seguia padrões lingüísticos normativos e priorizava como Língua Espanhola a língua falada e escrita pelos habitantes da península ibérica, evidenciando, assim, que a língua de prestígio era a falada e escrita no velho continente e não a do continente americano, lugar em que a língua era tão misturada com outros idiomas “indígenas”, tidos como bárbaros.


“A língua do Colonizador tem poder a do colonizado não tem prestigio” (STAM: 1992). Podemos reconhecer que não é nova a verdade imposta culturalmente e reconhecida nos textos, aquela à que Robert Stam faz referência em Bakhtin da Teoria Literária à Cultura de Massa.


Durante a ditadura (1964 -1985) o Ensino de Línguas Estrangeiras, em base a um falso nacionalismo, não teve espaço, segundo NICCHOLLS: 2001, a verdade apresentada pelo discurso oficial do poder era: a escola não poderia servir de porta de entrada à dominação ideológica de sociedades estranhas à brasileira.


Na reforma de 1971 recomenda-se acrescentar uma Língua Estrangeira ao curriculum de Ensino Médio, mas como atividade e não como disciplina.


Com esta análise, muito simples e resumida, podemos conseguir ler qual é a importância de uma Língua Estrangeira numa sociedade, e como as políticas lingüísticas através da historia sempre tiveram como objetivo dar uma organização a máquina social.


Uma idéia é forte, verdadeira e significativa sabe tocar aspectos essenciais da vida de um determinado grupo social (VOSHINOV: 2001).



2.- O renascimento do interesse:


Com a chegada do fim da ditadura em 1985, renasce o interesse pelos estudos das Línguas Estrangeiras e sobre tudo pelo Espanhol. Entre outras razões podemos mencionar: o retorno à democracia, as articulações das novas políticas econômicas em pauta nacional e internacional, a criação do MERCOSUR, das correntes migratórias internas do continente conseqüência dos diferentes movimentos ditatórias e absolutistas, da fundação das associações de professores de Espanhol em cada Estado, etc.


Por outra parte, devemos lembrar que algumas Universidades públicas durante décadas têm feito um trabalho continuo nas áreas de pesquisa e de formação de professores de Língua Espanhola como Língua Estrangeira, com o intuito de ensinar essa língua unicamente aos alunos brasileiros, estes centros encontravam se principalmente no eixo Rio/São Paulo, porém hoje chegam a ser centenas e estão espalhados pelo país todo.


Neste momento, o ensino, tendo como base os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, não tem mais como único objetivo o Ensino de uma Língua Estrangeira só para fines de tradução, agora a aprendizagem de outra língua deve dar garantias, ao estudante, para desenvolver uma atividade discursiva, ou seja, que a escola vê ao aluno como um ser discursivo e quer que a língua e a cultura do outro deva lhe servir como auxílio na sua construção como sujeito.


Segundo Kulikowski: 2001 e ao falar de Ensino de Espanhol não nos referimos só a um código lingüístico senão a identidades, diversidades, imaginários individuais e coletivos, subjetividades e alteridades que são modeladas ao som das realizações lingüístico – discursivas de países e regiões necessariamente heterogêneas.


Como podemos ver o Ensino de Línguas no Brasil teve uma importante mudança de paradigma e devemos concordar com a afirmação de Bakhtin: 1997, “A linguagem é sempre social e histórica”.


3.- Lei 11.161/2005


Uma vez reconhecida importância da Língua Espanhola no contexto nacional, o presidente Luiz Ignácio Lula da Silva, o dia 05 de agosto de 2005, sanciona a lei que determina a obrigatoriedade da Língua Espanhola nas Escolas Públicas e Privadas de Ensino Médio do país, e fixa como data limite para esta implantação definitiva nas escolas o ano de 2010; esta a que pareceria uma medida natural após a comprovada importância no contexto sócio-histórico, veremos que tem trazido algumas conseqüências.


4.- Conseqüências


Temos visto uma corrida em direção ao mercado editorial do Livro Didático, muitas editoras nacionais e estrangeiras disputam este novo e seguro mercado. Por outra parte, esta nova realidade nos fornece um material riquíssimo para nossos trabalhos de pesquisa: muitos não tomam em conta o fato específico do Ensino da Língua Espanhola para Brasileiros, visto que, ainda que os aprendizes pertençam aos níveis iniciais, já começam com certas vantagens ante outras culturas devido à proximidade das Línguas, Espanhol - Português.


Outros se esquecem de mostrar a diversidade e riqueza lingüística do mundo Hispano - falante, apenas privilegiando um espanhol padrão e único sem rosto.


Muitos deles apresentam um discurso ideológico onde podemos destacar o consumismo, o individualismo, a importância apela aparência, estes também nos oferecem um bom material para desenvolver nossas teses, sobre tudo se pensarmos que estamos trabalhando, estes conceitos, com adolescentes, nesse caso, podemos lembrar a citação de Foucault:1972, que afirma que ao analisar um discurso analisamos formações discursivas essencialmente políticas e ideológicas já que não existe texto inocente.


Ideologia segundo Bakhtin é a organização e regulação das relações histórico – materiais dos homens. (MIOTELLO: 1997)


Por outra parte, com base na argumentação da falta de professores de Espanhol como Língua Estrangeira no Brasil, têm surgido muitos cursos de preparação de professores de espanhol: faculdades particulares prometem formar professores de espanhol em seis meses, outros prometem prepara professores á distância, algumas universidades tradicionais também estão trabalhando com a preparação de professores a distância, o Ministério de Educação assina, recentemente convenio com o Instituto Cervantes para ministrar cursos de atualização e especialização a Professores de Espanhol como Língua Estrangeira o que produz desconforto nas Universidades Públicas que levam décadas formando especialistas e pesquisando muito sobre o Ensino de Língua Espanhola dirigida, especialmente, a aprendizes brasileiros.


Podemos constatar que estamos frente a um grão avanço do ensino da Língua Espanhol no Brasil, mas também, nos encontramos frente a uma série de conflitos: políticos, ideológicos, estruturais, econômicos, etc.


Ideologia é o sistema sempre atual de representação da sociedade e do mundo construído a partir das referencias constituídas nas interações e nas trocas simbólicas desenvolvidas para determinados grupos sociais organizados. (MIOTELLO:2005)



Em qualquer movimento social sempre vemos diferentes forças em uma constante interação dialética, nos cabe observar qual força puxa mais e consegue um avance maior. Esperemos que o aluno de Ensino Médio que deva estudar a Língua Espanhola como Língua Estrangeira não seja uma vítima mais das reformas educacionais que teoricamente são excelentes, mas que não sempre funcionam na prática.


BIBLIOGRAFIA


AZEVEDO, A. A cultura Brasileira. Rio de Janeiro:UFRJ, 1996.

BAKHTIN, M. marxismo e filosofia da linguagem. SP:Hucitec, 2006.

BAKHTIN, M. (Volishinov). Freudismo: um esboço crítico (Paulo Bezerra, trad.). SP: Perspectiva, 2001.

FOUCAULT. A ordem do discurso. (L.F. Sampaio trad.) SP: Edit Loyola, 1996.

KULIKOWSKI, S. La lengua Española en Brasil un futuro promissor. In: O Ensino de Espanhol em Brasil. SP: Parábola, 2005.

MIOTELLO, V. Ideologia. In: Brait (org), Bakhtin conceitos chave. SP:Contexto, 2005.

MOITA LÓPES, L. P. Por uma Lingüística Aplicada Indisciplinar. SP: Parábola, 2006.

NICCHOLLS. Perspectivas históricas do Ensino de Línguas Estrangeiras e as diferentes abordagens. In: Aspectos Pedagógicos e Metodológicos de Ensino de Inglês. Maceió: UFAL, 2001.

BRASIL, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Brasília (DF): MEC/SEMTEC, 2002.

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