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Observamos ainda que a publicização dos textos nesse blog atendem especificamente ao objetivo de propiciar a leitura prévia dos participantes do Círculo 2009. Os textos serão devidamente reorganizados e formatados com todas as notas e publicados em Caderno Especial para o evento.

Gêneros Primários e Secundários , segundo a concepção Bakhtiniana.

Sebastiana Almeida Souza

Os gêneros do discurso – orais e escritos, incluem desde uma curta réplica de um diálogo cotidiano, um relato familiar, uma carta, até as variadas formas de exposição científica e de modos literários.Bakhtin(1952-1953/1979), distingue , ainda, os gêneros de discurso primários, constituídos de comunicação verbal cotidiana, dos gêneros de discurso secundários, que aparecem naquelas circunstâncias de comunicação cultural mais complexas, principalmente escritas.

Assim, compreende-se que durante o processo de formação dos gêneros secundários, estes incorporam e transformam os gêneros primários que, ao serem absorvidos, perdem sua relação imediata com a realidade existente com os discursos alheios, conservando sua forma e significado cotidiano apenas no conteúdo. Sua integração com a realidade ocorre, então, através do gênero que o incorporou.

Portanto, a relação entre gêneros primários e secundários permite a explicitação do princípio dialógico da linguagem, que permaneceria dissimulado se o estudo dos gêneros se concentrasse exclusivamente sobre os gêneros secundários.

Bakhtin(1952-1953/1979:301), acrescenta que os gêneros nos são dados como nos é dada nossa língua materna, ou seja, nós a adquirimos mediante enunciados concretos que ouvimos e reproduzimos durante a comunicação verbal viva que se efetua com indivíduos que nos rodeiam.

Os gêneros e, mais particularmente, os gêneros primários são o nível real com o qual a criança é confrontada nas múltiplas práticas de linguagem.Eles instrumentalizam a criança(é claro que aqui se colocam todo o problema de ensino e do desenvolvimento e o problema das interações sociais para a aprendizagem). E permite-lhe agir eficazmente em novas situações(o instrumento se torna instrumento de ação). Os gêneros se complexificam e tornam-se instrumentos de construções novas, mais complexas . Desse modo, Vygotsky(1985), faz uma relação entre gêneros primários e secundários em conceitos cotidianos e conceitos não espontâneos, sob a discussão de gêneros, ou seja, a primeira idéia é dizer que os gêneros primários nascem na troca verbal espontânea, estão fortemente ligados á experiência pessoal da criança e se aplicam a uma situação á qual estão ligados de maneira quase indissociável, por assim dizer, automática, sem real possibilidade de escolha.Diria mesmo que a ausência de possibilidade de escolha é o que mais se caracteriza- num nível muito pouco evoluído de desenvolvimento, isto é, precisamente antes da aparição dos gêneros secundários. Vygotsky(1985), descreve essa relação como sendo inconsciente e involuntária.

Então, podemos observar que os gêneros secundários introduzem numa ruptura importante em pelo menos dois níveis:

*Não estão mais ligados de maneira imediata a uma situação de comunicação, sua forma é frequentemente uma construção complexa de vários gêneros cotidianos que, eles próprios, estão ligados a situações; resultam de uma disposição relativamente livre de gêneros, tratados como sendo relativamente independentes do contexto imediato;

*Isso significa que sua apropriação não pode se fazer diretamente, partindo de situações de comunicação; o aprendiz é confrontado com gêneros numa situação que não está organicamente ligada ao gênero, assim como o gênero, ele próprio, não está mais organicamente ligado a um contexto preciso imediato.Além disso, essa situação não resultou direta e necessariamente da esfera de motivações já dadas do aprendiz, da esfera de suas experiências pessoais, mas de um mundo outro que tem motivações mais complexas, por construir, que não são mais necessariamente pessoais.

• Há de exemplificar nesse caso a Zona de Desenvolvimento Proximal , ou seja, nessa questão, quando uma criança ensina outra de maneira natural o que sabe está no gênero primário, ou seja quando efetiva-se o aprendizado e este, consegue entender e aplicar o conhecimento nas diversas atividades , ou seja, aplicá-la de forma científica transforma-se em gênero secundário.

Vygostky(1935,p. 484),define o indício substancial da aprendizagem é o de que ela cria uma zona de desenvolvimento imediato, ou seja, suscita para a vida na criança, desperta e aciona uma série de processos interior de desenvolvimento.

Bakhtin(1997), salienta a importância de se fazer a sua inter-relação.Isso, aliado ao processo de formação do gênero secundário que irá esclarecer a natureza do enunciado e a correlação entre língua, ideologia e visões de mundo.

Há de considerar na questão de gênero primário e secundário , o estilo de fala que caracteriza um grupo social.



Gênero primário / conversão de Gênero Secundário.

Atividade de Produção de Texto

Exemplo: produção de texto, construído por um aluno com surdez em fase de alfabetização. Será analisado na perspectiva de gênero primário e secundário.


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Há de considerar que fora trabalhado anteriormente a palavra extra na perspectiva da explicação de conteúdo referente aos direitos trabalhistas, pois trata-se de uma aluno que se encontra inserido no mercado de trabalho. Então, ao analisarmos esse texto, verificamos que inicialmente quando explicado o significado da palavra extra fora feito de forma simples com exemplos da vivência do cotidiano do trabalho desse aluno, houve participação através da libras do conhecimento deste referente ao conteúdo.

Ao produzir o texto com a palavra Amor, o aluno conseguiu fazer uma contextualização, abrangendo diversas situações para ele significam amor, enfatizando assim o que estava acontecendo em sua vida cotidiana associando a pala
vra extra ,que fora compreendido sob diversas formas. Conclui-se que inicialmente podemos classificar como gênero primário, porém quando houve a explicação do conteúdo e que se tornou necessário para sua vida profissional, passou-se a ser produzido e compreendido amplamente, desenvolvendo assim o gênero secundário. Esse processo é visto por Bakhtin, como o processo de compreensão que só ocorre quando o aprendizado é constante, ou seja, há uma sequência de assimilação que levam ao fim de determinado tema.



Referências Bibliográficas

- BAKHTIN. Mikhail. Estética da Criação Verbal, SP: Martins Fontes, 1997(Coleção Ensino Superior);


- BARROS. Diona Luz Pessoa& Fiorin, José Luiz(orgs). Dialogismo, Polifonia, Intertextualidade, SP, EDUSP, 1994 (Ensaios de Cultura, 7);

- COSTA.Robson Santos. Linguagens Contemporâneas: Discurso e Memória nos quadrinho de Super-heróis. RS, 2007: 116 F. Dissertação(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em memória social, Universidade Federal do Estado do RS, 2007.

FREITAS, M. T. A. Vygotsky e Bakhtin Psicologia e e
ducação: um intertexto. São Paulo: Ática,

- ORLANDI,Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura, 4ª Edição, SP, Cortez: Campinas, 1999.

- VYGOSTKY, L.S. Pensamento e Linguagem. Editora Social, 1985.
FREITAS, M. T. A. Vygotsky e Bakhtin Psicologia e educação: um intertexto. São Paulo: Ática, 1996.

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