Maria Emília Caixeta de Castro Lima
Em menos de um ano vivi várias reedições de uma mesma discussão acerca da confiabilidade das pesquisas que lançam mão das interações interlocutivas produzidas no espaço da sala de aula. Como “confiar” no que o professor diz se não gravarmos as aulas dele? Como promover uma “validação científica dos dados” de pesquisa? Como objetivar as investigações que envolvem os discursos dos sujeitos professor, aluno e pesquisador?
Em menos de um ano vivi várias reedições de uma mesma discussão acerca da confiabilidade das pesquisas que lançam mão das interações interlocutivas produzidas no espaço da sala de aula. Como “confiar” no que o professor diz se não gravarmos as aulas dele? Como promover uma “validação científica dos dados” de pesquisa? Como objetivar as investigações que envolvem os discursos dos sujeitos professor, aluno e pesquisador?
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De acordo com a filosofia da linguagem de Bakhtin e seu Círculo, a condição de sentido de um discurso não é individual, na medida em antecede a subjetividade. Constituímos-nos como sujeitos produtores de discursos a partir e por meio dos discursos alheios. Assim, bakhtinianamente falando ninguém escapa do outro. Ainda que em nossas pesquisas, dissertações e teses falemos de um objeto de investigação, na condição de coisa a ser compreendida, quem conhece ou desconhece algo é sempre um sujeito marcado ideologicamente pelas histórias vividas e lugares percorridos. Desse ponto de vista, tudo que diz respeito ao homem, na condição de humano, impõe a necessidade de admitir, compreender e levar em conta a subjetividade, ou melhor, as subjetividades porque somos muitos: configuração de variadas histórias e dos movimentos de permanência e mudanças que protagonizamos como sujeitos até o final de nossa existência.
De acordo com a filosofia da linguagem de Bakhtin e seu Círculo, a condição de sentido de um discurso não é individual, na medida em antecede a subjetividade. Constituímos-nos como sujeitos produtores de discursos a partir e por meio dos discursos alheios. Assim, bakhtinianamente falando ninguém escapa do outro. Ainda que em nossas pesquisas, dissertações e teses falemos de um objeto de investigação, na condição de coisa a ser compreendida, quem conhece ou desconhece algo é sempre um sujeito marcado ideologicamente pelas histórias vividas e lugares percorridos. Desse ponto de vista, tudo que diz respeito ao homem, na condição de humano, impõe a necessidade de admitir, compreender e levar em conta a subjetividade, ou melhor, as subjetividades porque somos muitos: configuração de variadas histórias e dos movimentos de permanência e mudanças que protagonizamos como sujeitos até o final de nossa existência.
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São muitos os estudos hoje existentes no campo da produção científica e tecnológica mais ligada aos procedimentos médicos, de engenharia, criação de novos materiais, etc., e muitas delas são bastante confiáveis do ponto de vista dos resultados gerados. Por outro lado, existe uma infinidade de não-saberes que habitam o mundo das ciências exatas e da saúde que são altamente controvertidas. Podemos citar nesse rol: o efeito estufa e aquecimento global; o uso de telefones celulares e tumores cerebrais, leucemia e estações de alta tensão, etc. Em muitos desses casos o que está em questão não reside no desconhecimento dos impactos gerados para a saúde ou para o ambiente, mas a própria incerteza do que ocorre no nível do fenômeno investigado pela sua natureza complexa. Complexo aqui está sendo entendido como em Morin, aquilo que é tecido junto. Prigoggine escreveu sobre o fim das certezas, além de vários epistemólogos e filósofos das ciências que vêm tematizando a natureza da ciência e que podem nos ajudar a problematizar o esforço de busca de objetividade, confiabilidade e certeza nas pesquisas em educação em ciências.
São muitos os estudos hoje existentes no campo da produção científica e tecnológica mais ligada aos procedimentos médicos, de engenharia, criação de novos materiais, etc., e muitas delas são bastante confiáveis do ponto de vista dos resultados gerados. Por outro lado, existe uma infinidade de não-saberes que habitam o mundo das ciências exatas e da saúde que são altamente controvertidas. Podemos citar nesse rol: o efeito estufa e aquecimento global; o uso de telefones celulares e tumores cerebrais, leucemia e estações de alta tensão, etc. Em muitos desses casos o que está em questão não reside no desconhecimento dos impactos gerados para a saúde ou para o ambiente, mas a própria incerteza do que ocorre no nível do fenômeno investigado pela sua natureza complexa. Complexo aqui está sendo entendido como em Morin, aquilo que é tecido junto. Prigoggine escreveu sobre o fim das certezas, além de vários epistemólogos e filósofos das ciências que vêm tematizando a natureza da ciência e que podem nos ajudar a problematizar o esforço de busca de objetividade, confiabilidade e certeza nas pesquisas em educação em ciências.
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Tal preocupação justa e legítima de ser abordada nos remete pensar duas lógicas de produção de sentidos e, portanto, de compreensão do mundo: uma que nos remete ao pensamento paradigmático que se vale da racionalidade científica e outra que é da ordem dos sujeitos e de suas experiências pessoais. Não vou aprofundar nessa discussão, mas tão somente dizer que a atenção às subjetividades e às contribuições da filosofia da linguagem não exclui a busca da objetivação na pesquisa científica da educação em ciências. Não se trata, em absoluto, de um vale tudo e ou da falta de objetividade. Conferir um caráter de cientificidade, de objetividade ou de confiabilidade no campo da análise das enunciações dos sujeitos requer uma explicitação cuidadosa das condições de produção dos dados, das histórias dos sujeitos dos discursos, das categorias de análise ou marcos referenciais de aproximação e leitura dos dados. Fora disso nada é confiável. Teremos sempre versões das histórias e não acesso direto a ela porque o que os sujeitos dizem e o que nós ouvimos depende do que nós sabemos, do que nós cremos e que queremos fazer crer. Assim, será sempre subjetivamente dito, ouvido, analisado.
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